Cap 1 (parte 2) - Festa de aniversário.

A cozinha estava simplesmente repleta de comida. DÃAAAA aquilo era uma festa de aniversário. A minha festa de aniversário. Porra, ao menos não tinham balões e um palhaço. Eu encarei minha tia, imaginando que aquela vaca miserável poderia ouvir meus pensamentos só pelo grau de nervosismo do meu rosto, e conseguisse no mesmo instante uma desgraça de um palhaço. Eu suspirei, meu pai me encarou ao me ver entrar.

- Tá fazendo o quê aqui? Vai pra sala caralho.

- Minha tia quem me mandou vir!

- PORRA LOURDES! EU FAZENDO OS TREM PRO MEU FILHO E VOCÊ QUER QUE ELE TRABALHE NO DIA DO ANIVERSÁRIO? QUE PORRA VELHO, VOCÊ QUE TEM QUE TRABALHAR. - Os olhos dele estavam inchados, a boca tremendo, ele com certeza ia começar a passar mal. Eu me virei e saí da cozinha, os gritos de minha tia se iniciando após os do meu pai. Como eu queria que existesse alguém no mundo que pudesse me entender.

- Existe.

Uma corrente fria passou. Eu olhei pros lados, não havia ninguém. Suspirei,.Ótimo, agora estava louco. Fui até a sala calmamente, a cachorrinha de minha prima roendo algum dos meus fodidos presentes recém ganhos. Eu pulei nela, a pegando. Ela rosnou.

- SOLTA ESSA PORRA. - Ela latiu alto, alguém na cozinha perguntou o que havia acontecido.

- Joga ela pela janela. - A voz do garoto falou e eu a obedeci. Foi um impulso. Porra, agora sim eu estava fudido. A cachorrinha saiu voando, latindo. Eu corri até a janela, ela caiu por alguns segundos e então... - Muito bem. - Eu me virei, para o lado daonde vinha a voz. Ninguém. Eu estava branco, paralizado, mudo, chocado. Comecei a imaginar uma trilha sonora de filme de terror. De repente os sons na cozinha haviam parado. Eu rastegei até o lado oposto da sala. A voz ao menos havia parado. PEEEEEEN. Eu dei um pulo. O interfone havia tocado, eu suspirei, e fui até ele.

- Oi.

- CARA, O CACHORRINHA DA SUA PRIMA TÁ MORTA!

- E daí?

- An... Nada. - Escute o som de uma garotinha chorando no fundo. - Abre aí.

- Não, valeu. - Eu desliguei o interfone. Ele tocou de novo. Meu pai apareceu, sorrindo, com a cara mais falsa do mundo.

- Convidados chegando? Que bom, vou conhecer seus amiguinhos novos da escola. - Viva meu pai, viva. Ele pegou o interfone e abriu o portão. Abriu a porta da sala então e ficou lá, como uma estátua, esperando o garoto entrar. Uma vara de 2 metros e meio se postou diante da porta. Espinhas no rosto, um dos dentes da frente recém quebrado e um brinco ridículo rosa na orelha.

- Oi... - Ele olhou para o meu pai.

- Seja bem vindo, você deve ser um dos amigos de meu filho... Qual o seu nome? - QUE MERDA, sabe aqueles filmes terríveis de comédia, em que nada é engraçado? Esse tá parecendo um deles.

- Ann... Sebastian. - É ão, para ser mais sincero. Ele encarou meu pai e então meio que se esquivou, vindo até mim. - Cara, esse é seu pai? - A cara dele estava assustada demais para ser de deboche. Ele se sentou. - Sabia que a cachorrinha da sua prima tá morta lá embaixo? O porteiro mandou avisar que é pra alguém descer e etc... - Eu fiz um sinal de "tanto faz" com os ombros. Ele ficou me encarando.

- Vou pegar um refri, calma. - Me levantei, e saí pela porta. O retardado nem reparou. Eu fui até a varando do andar do prédio, que dava para uma vista muito ruim. Só lixo, e prédios. O centro da cidade.

- Linda vista, mas prefiro a de Paris.


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Cap 1 (parte 1) - Festa de aniversário.

Estou sentado no sofá da casa de minha tia Lourdes. Uma velha gorda, que cobra por aluguel até o ar que respiramos. O termo mão de vaca, foi criado no dia 17 de Setembro de sei lá qual ano. Bem, a data exata é quando aquela mulher falou a primeira palavra. Ela vestia um lindo pijama de vaca, e segurava o seu mais valioso tesouro: Uma prata de 1 cruzado. Minha avó chegou para ela, pedindo a moeda, e a linda vaquinha a encarou, com fogo nos olhos e raiva estampada na face. Ela apenas disse:

- Não.

Eu sei, pareço mal. Pareço cruel. Não, apenas sou sincero. Na verdade minha avó quem fala aquilo. Minha avó, a única pessoa no mundo que acho que nunca desejei que morresse. A não ser quando eu brigava com ela por motivos fúteis. Apesar disso, a amo. Sim, eu amo apenas ela, se posteriormente disser que não amo ninguém, é porque eu me esqueço desse anjo. Bem, falando no demônio...

- AUGUSTO! VEM AQUI AGORA AJUDAR NA COMIDA! – Minha tia me encarou, os olhos castanhos e as bochechas exorbitantes. – A gente faz a sua festa na maior compaixão, gastamos tanto dinheiro para te dar do bom e do melhor, e mesmo assim você não colabora nem com um agradecimento! Você é um garoto desprezível. – Viram? Amor sabe. Sangue do próprio sangue e essas coisas.

- Eu não pedi porra de festa nenhuma! – Senti os raio lazers embutidos naqueles olhos dilacerarem minhas pupilas.

- Então porque estamos fazendo essas coisas? – Eu suspirei, acabaria gerando confusões. – MARCOS! – Ela entrou dentro da cozinha. As falas seguidas variavam de “EU GASTANDO UMA FORTUNA” para “ELE É MEU FILHO E ELE MERECE UMA FESTA!”. Nada de importante.

Continuei em meus pensamentos, como o de como matar a cachorrinha sabe se lá de qual raça da minha prima. Aquele demônio, que apenas sabia latir, latir e latir. A não ser de noite, quando estão todos dormindo, pois nesse momento ela late. Ela possuía um pelo branco, e me encarava de longe. Eu estava sentado no sofá, olhando para a tela desligada da TV (“AUGUSTO! Desliga essa televisão, conta de luz anda muito cara e eu não tenho dinheiro sobrando!”). Os olhos da cachorrinha variavam de meu tórax até o dedo do meu pé. Ela procurava algum lugar para morder, certamente. Eu olhei para o lado e uma vassoura estava esquecida ali. Eu a peguei e então a praga começou a rosnar.

- Vem queridinha! Vamos brincar de pegar a vareta? Ou o pau, nesse caso. – Antes ela mordendo o pau da vassoura do que o meu pau. Se fosse outra espécie de cachorra, quem sabe... A merdinha começou então a correr na minha direção, dentes a mostra e rosnados cada vez mais alto. Eu posicionei a vassoura como um taco de golfe. Quando ela se aproximou o bastante...

- AUGUSTO! – Eu soltei a vassoura. Olhei para trás, minha prima me encarava. Ela era alguns anos mais velha que eu. 10, pra ser mais exato. Ela era praticamente bonita, tinha um relacionamento estável com um cara que pelo que todos percebemos, jamais iria se casar por possuir medo de ela se separar em seguida e roubar todo o seu precioso patrimônio. Ela era praticamente rica, e apenas ia para a casa de sua querida vaquinha, digo, mãe, em datas especiais e quando ela não estava lá. No resto do tempo ela se bancava a prostituta para o seu eterno “noivo”. – O que você ia fazer? – Eu a encarei.

- Nada, porque?

- Parecia que você ia... – Ela me olhou analisando. Parou a frase no meio e então chamou sua cachorrinha. O rabinho branco foi rebolando de um lado para o outro. Eu imaginei o cabo da vassoura ali.

.Prefácio

Sempre me perguntei: Porque exatamente nós desejamos que alguém morra? Eu não sei. Mas eu quero que tantas pessoas ao meu redor tenham infartos, adquiram doenças ou até mesmo se matem por não encontrarem mais sentido na vida. Hoje eu faço exatamente 17 anos de idade. Em um ano eu teoricamente teria minha independência. Não financeira, e indireta, obviamente. Minha família ainda seria minha fonte de renda. Vêem o problema? Bem, na verdade não existe um problema muito grande. Minha família se baseia em um pai, uma mãe e duas irmãs. Não amo nenhum deles. Quero que eles morram. Sim, quero! O governo teria que me mandar uma pensão, ou então eu encontraria pais adotivos, mas eu simplesmente os odeio. Tente ter um pai retardado, que trabalha em uma empresa que você nem ao menos consegue entender sobre o que é. Que te diz o que fazer, mesmo sem saber o que ele próprio está falando. Que acha que internet, tecnologia e qualquer afim é simplesmente uma perda de tempo. Que a vida está nos livros e que estudo é a única coisa que importa. Quanto a minha mãe? Bem, ela simplesmente não sabe que eu existo. Nunca para em casa, trai meu pai e ao mesmo tempo diz a ele que é o único em sua vida. Bem, de certa forma é verdade, a vadia é bissexual e o trai com uma mulher. Muito interessante, não é? Não para mim, todos da escola falam que minha mãe é lésbica, e bem, eu já não sou exatamente querido, e com isso as coisas melhoram.

Quanto as minhas irmãs: Duas patricinhas, uma mais nova e uma velha que eu. Uma que ninguém atura, por apenas saber falar sobre a sua querida boyband que ganha prêmios e possui segundo ela “os garotos mais lindos e perfeitos do mundo”. A mais velha? Apenas sabe perguntar o que estou fazendo, e por que. Não consegue ficar um minuto sem se intrometer na minha vida, e praticamente me persegue. Isso sem contar do namoradinho chato dela, que se acha o maioral porque possui mais músculos do que o normal. Bem, músculos sim, cérebro não. Se uma mosca passar na frente do garoto, das duas uma: Ou ele fica a encarando, ou ele foge com medo dela o picar. E por fugir eu digo gritar, correr, cair no chão e dizer “NÃAAAO ELA ME ATACOU!”. Enfim, bem vindos a minha vida, e não se assustem com as possíveis futuras mortes. Elas irão acontecer, e tenho certeza de que não irão me abalar.